sexta-feira, outubro 28, 2005

Verbo: definir.

Álcool, alegria, amigos, amizade, amor, angústia, café, cansaço, chá, chávenas, cinema, construção, depressão, descalço, desconstrução, disforia, escrita, estupidez, euforia, ficção, fotografia, geografia, ironia, leituras, letras, linguística, livros, mapas, minimalismo, música, observação, pés, piano, pormenores, raiva, relacionamentos, saídas, sarcasmo, solidão, sushi, táxis, teclas, topografia, tristeza.

Ficção (13).

E o teu nome. Entranhado.

Comentário desnecessário (36).





Quando o telefone toca (2).

Segunda-feira, 24 de Outubro de 2005.
[10h35mins]


- Estou? É do "Brincar a brincar"?
- Erm... não?
- Ah...

< silêncio >

Quando o telefone toca (1).

Quarta-feira, 26 de Outubro de 2005.
[13h51mins]


- Estou sim, boa tarde! Eu estou a falar com o senhor J.?
- Sim, sou eu.
- Boa tarde, senhor J. - o meu nome é S. e estou a ligar de uma empresa de inquéritos telefónicos; tenho aqui indicação de que o senhor ou a sua esposa participaram, há uns meses atrás, numa das nossas sondagens.
- Olhe que não...
- Pois, eu tenho aqui a indicação... se não foi o senhor, foi a sua esposa - um dos dois foi de certeza.
- Dificilmente terá sido a minha esposa dado eu não ser casado.
- Ah... é que as pessoas normalmente são casadas...

< silêncio >

terça-feira, outubro 25, 2005

Nota para a definição de topografia.

Cada movimento, cada respiração, cada som vago.

Comentário desnecessário (35).

Devaneio tesístico de Finn.

A minha tese é melhor qu'a tua.

(Na-na na-na na na.)

Eu em minutos.

[23h53mins]
Em pé. Sala. Chávena de café na mão. Ataque de raiva / sarcasmo. "Oh, puh-lease..." como mantra.

[0h01mins]
"É claro que isso não é nada assim. Era só o que faltava. Não há pachorra."

[0h09mins]
1, 2; 1, 2, 3; 1, 2 - 1, 2; 1, 2, 3, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 1 - 2, 3; 1, 2, 3; 1, 2, 3, 4, 5.

[0h13mins]

("Filhoirmãoamanteamor.")

[0h15mins]

Ostinato.

[1h32mins]
Sentado. Sala. Chávena vazia. A cabecear em frente ao portátil. "Isto nunca acaba." Tu dormes. Tranquilo.

[2h57mins]
Um choro quieto. Contido. Cansado.

quarta-feira, outubro 19, 2005

A culpa é dos pronomes.

Primeiro deixa-se de falar de uma coisa. Pouco tempo depois são duas, três, quatro; número indeterminado. As razões para se deixar de falar são várias mas que se resumem a duas e que se resumem a uma: não ter vontade disso. O problema é a razão dessa súbita (ou não) falta de vontade. Eu cá, se tivesse de culpar alguma coisa, culparia os pronomes - pela forma dissimulada como, sem quererem dizer nada, dizem demasiado; por serem arautos de uma nova ordem de coisas de cujas consequências só a pouco (e a custo) nos vamos apercebendo.

Por haver boas excepções, contudo, admito que isto

(felizmente)

nem sempre é assim.

Comentário desnecessário (34).

Ficção (12).

Espero-te na estação Baixa-Chiado. O metro pára. As portas abrem-se e tu sais, passas e nem me vês. Na tua mão a mão de outro.

(Espero-te até que o verbo se eroda.)

Agradecimentos merecidos.

Ao P., por ter criado o logotipo abaixo para o Maiúsculas.

(Muito obrigado, P.)

Sobre o fenómeno do Man Booker Prize 2005.

Ficção (11).

Era simples. Como quando eras pequena e atiravas para dentro da banheira cheia de água tudo o que encontravas perto; surpreendia-te a leveza das coisas, como todas

(ou quase)

acabavam por vir à tona sem a mácula do esforço.

Comentário desnecessário (33).

segunda-feira, outubro 17, 2005

Ficção (10).

Estacionas o carro no piso 2b. Não sabes ao certo a razão que te trouxe aqui. Não existem outros automóveis à volta. Abres a porta. Sais. Olhas para um diagrama dos diversos pisos e das saídas de emergência. Um círculo vermelho e as palavras "você está aqui" indicam-te onde estás. Voltas ao carro. Abres a porta. Tiras a mala pesada de livros. Fechas a porta. Diriges-te ao elevador. Entras. Pelas frinchas, entra a claridade. Chegas à superfície. E é quando as portas se abrem que tu sabes

(tu sabes)

que estás ali,

(com o sol a aquecer-te a pele, com os olhos franzidos da claridade)

que sabes ao que vieste; que

(ainda)

não te perdeste.

Comentário desnecessário (32).

À procura de um texto autobiográfico (18).

I came to explore the wreck.
The words are purposes.
The words are maps.
I came to see the damage that was done
and the treasures that prevail.


[ Adrienne Rich: "Diving into the Wreck". Poems Selected and New, 1950-1974. ]

domingo, outubro 16, 2005

Listening sessions (4).

Aquisições recentes na FNAC. Alguns já ouvidos; outros ainda por ouvir:

Andrew Bird: Andrew Bird & The Mysterious Production of Eggs.
Aimee Mann: The Forgotten Arm.
Sufjan Stevens: Greetings From Michigan: The Great Lake State.
Ladytron: Witching Hour.
Belle & Sebastian: Dear Catastrophe Waitress.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Ficção (9).

Deste por ti na cama, de olhos no tecto, a fazer uma contagem decrescente

(cinquenta e nove, cinquenta e oito, cinquenta e sete)

porque não conseguias dormir e pensaste que, contando de trás para a frente, talvez o sono chegasse, talvez

(cinquenta e seis, cinquenta e cinco, cinquenta e quatro)

a memória dele desaparecesse; que talvez pudesses ter uma noite de sono sem recorreres aos já tão habituais Dormicums. Como sempre te enervou ficar na cama quando não consegues dormir,

(cinquenta e três, cinquenta e dois)

levantas-te, abres a porta do teu andar (o último do prédio em que vives) e sentas-te na escada, em pijama, a olhar para um céu contido numa clarabóia suja;

(cinquenta e um, cinquenta, quarenta e nove)

até que te esqueces de contar

( )

e adormeces, encostada de leve à parede.

Comentário desnecessário (31).

Dos corações piegas.

Sentado na sala, assobio (s)em contornos dramáticos - enquanto bato os tempos com o pé esquerdo - "Someone to Watch over Me", do George and Ira Gershwin Song Book; a interpretação que soa, ao longe, vinda do quarto, é a de Ella Fitzgerald.

(Won't you tell him please to put on some speed
Follow my lead, oh how I need
Someone to watch over me
Someone to watch over me)


Saio da sala, abro a janela; debruço-me; olho para cima; e deixo-me estar a olhar para noite.

Portadas abertas.

Café frio, encostado à bancada da cozinha.

terça-feira, outubro 11, 2005

Lição de geografia.

Hoje lembrei-me dos pormenores da tua cara e do teu corpo

(sobrancelhas, mãos, orelhas, peito, boca, testa, pestanas, olhos, braços, nariz, pescoço, pernas)

e de como a única coisa de que precisava para adormecer era o espaço situado entre as tuas duas omoplatas.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Ready, set, go.

Verbo: acordar.

Preciso urgentemente de duas chávenas de café bem forte.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Ficção (8).

Adormeces no comboio e, quando acordas - estremunhado pelos sacudires inevitáveis de uma carruagem que parece querer cuspir os passageiros -, a estação em que estás não é a tua.

Comentário desnecessário (30).

Ficção (7).

Até ao dia em que ele se virou para ti e te disse

- Chega disto. Chega. Tenho de sair daqui.

Ainda surpresa pela notícia

(naquele tempo, qualquer notícia te surpreendia)

dizes-lhe qualquer coisa que nem tu percebes bem. Talvez te tenha saído um

- Por favor, não vás...

ou então um

- Mas o que é que eu fiz desta vez?

O que quer que fosse, a única resposta que te foi dada foi o ruído metálico do trinco da porta a fechar-se e os passos do teu marido

(o teu marido)

a ficarem mais longe, o som das solas nos degraus das escadas, mais longe, fora dali, para lugar incerto. E tu sozinha no vosso apartamento de Queluz. Telefonava-te de vez em quando e perguntava-te como estavas ao que me respondias, numa voz que mal reconhecia como tua, que estavas bem, que não me preocupasse. Às vezes ficava encostado ao carro ou no café mesmo ao lado da vossa casa

(a tua casa)

na esperança estúpida de ver sinal de ti

(os estores corridos, as luzes apagadas)

mas tu não estavas lá. E agora estava eu sozinho.

terça-feira, outubro 04, 2005

Ficção (6).

Quarenta e quatro degraus de mármore, doze de madeira. Contaste-os da última vez que os subiste. À descida repetes para ti estes números

(quarenta e quatro doze)

vezes sem conta. Um total inócuo de cinquenta e seis degraus que te separam dele; do sono dele; da graça que é ser dele.

Desces.

(E à saída já não és tu.)

Where worlds collide.

Equipamento necessário.

As depressões e crises existenciais deviam vir equipadas com duas embalagens de Häagen-Dazs Banoffee de série.

A vontade da vontade.

Hoje gostava de conseguir escrever um daqueles posts informativos sobre a actualidade, sobre "o que anda a acontecer". O problema é não me apetecer.

(Não me apetece. Ponto.)

Mutatis mutandis.

É tão irritante quando uma pessoa que não vemos há coisa de cinco anos nos encontra e nos diz, com entusiasmo estupefeito - e como se fosse uma coisa de que nos devêssemos orgulhar -, "Ah! Tu estás na mesma!"