quinta-feira, maio 25, 2006

Dinner, anyone?

Rúcula, queijo Feta, alcaparras, pimenta cinco bagas.

terça-feira, maio 23, 2006

O gene da sereia.

Descobri que me faltava o gene da sereia quando acordei e o marinheiro não era meu. Como não conheço nenhum marinheiro e "meu" quer dizer pouco, convenço-me de que o gene está cá mas dorme e procuro barco para afundar.

Lime green.

Didascália.

Ainda tenho as pupilas dilatadas. Hoje, como o Prior do Angels in America em frente ao espelho, só me apetece dizer "Fuck this shit. Fuck this shit."

A didascália salva o dia: "He almost crumbles; he pulls himself together [...]".

(Ponho café a fazer. Recomponho-me. Forço um sorriso e continuo.)

Os casamentos dos meus amigos.

Há pessoas que me consideram amigo sem terem grande prova de uma afirmação desse porte. Mas vá, prescindamos das aspas e chamemos-lhes amigos, pronto.

Os meus amigos casam-se com uma urgência de quem sufoca. Recebo convites de gente com quem não tenho uma conversa decente há anos porque a prenda é necessária. Eu não caso. Nem penso nisso. A não ser quando abro os convites para os casamentos dos meus amigos, coisas exóticas, sempre com muitos dourados e em papéis espessos ou materiais rebuscados.

Fazem-me pensar.

Alguns casamentos fazem-me lembrar crianças que jogam à apanhada e que deixam de poder ser apanhadas uma vez que toquem num lugar seguro como um banco de jardim ou a parede de uma casa. Toma, toma - já não me apanhas. Sento-me nas recepções anteriores e posteriores e penso em tudo menos naquilo. Canso-me. Penso em meter-me no carro, arrancar; deixar pendurada a noiva encafuada pelo gosto duvidoso numa mistura perigosamente inflamável de folhos, rendas, cetins. Canso-me da banda que toca músicas enlanguescidas - e com sentidos duplos estupidamente óbvios - para os sabujos que dançam bêbados. Penso em engolir de uma só vez as não-sei-quantas benzodiazepinas que tenho no bolso esquerdo do casaco; em dizer

- Quem não joga mais sou eu.

Mas deixo-me estar sentado. Como na mesa da gente não casada. Levanto-me sem que se note, congratulo os noivos cujos nomes telenovelescos me entediam tanto como os votos insípidos que há horas proferiram e, hipócrita como consigo ser, ainda pergunto se posso levar uma ou duas fatias do bolo de proporções épicas que está ao meio da sala. Entro no carro e conduzo até casa sem desapertar nem um pouco que seja a gravata. Vou precisar de um duche bem grande para poder raspar do corpo um dia assim.

Felizmente os meus amigos-amigos - sem aspas (mesmo quando as aspas são invisíveis) - não são assim. Respiro de alívio ao escrever esta frase.

Epígrafe.

O God, and the wedding! All her family and her friends
and only a handful of mine all scroungy and bearded
just wait to get at the drinks and food -
And the priest! he looking at me as if I masturbated
asking me Do you take this woman for your lawful wedded wife?
And I trembling what to say say Pie Glue!
I kiss the bride all those corny men slapping me on the back
She's all yours, boy! Ha-ha-ha!
And in their eyes you could see some obscene honeymoon going on -
Then all that absurd rice and clanky cans and shoes
Niagara Falls! Hordes of us! Husbands! Wives! Flowers! Chocolates!


[ Gregory Corso: "Marriage". The Happy Birthday of Death. ]

Nota prévia a "Os casamentos dos meus amigos".

Uma parte aconteceu e outra parte não. Achei interessante a mistura das duas e foi disso que resultou o texto. Ficcionalização do real, assinalada como isso mesmo.

sexta-feira, maio 12, 2006

E depois flutuamos.

Aprendi a nadar era muito novo. Lembro-me da sensação da água no meu corpo à medida que percorria submerso a piscina. Chegava ao outro lado, voltava a mergulhar e era capaz de passar horas nisto. Às vezes saía a meio da aula e sentava-me nos bancos dos balneários zonzo porque apesar de debaixo de água não parava de pensar em tudo e ao mesmo tempo. O que me cansava. Passaram-se anos. Não nado há pelo menos dois Verões. E sei que quando entrar na água, depois da hora do calor e perto do sobreiro, o F. - o meu professor de miúdo - vai estar lá sem que um dia tenha passado. Pronto a saltar para a água e a puxar-me pelo pé esquerdo até ao fundo.

You say nerd, I say fabulous.

À procura de um texto autobiográfico (23).

Não podemos
desamar
quem nos ama

Se nem
quem nos desama
podemos desamar


[ Adília Lopes: Le Vitrail La Nuit / A Árvore Cortada. ]

Dois anos.

Lembrei-me atempadamente de que hoje o Maiúsculas faz dois anos. Assinalo a ocasião com este post e com pastéis de feijão acompanhados por uma infusão de morango e kiwi destes senhores. Para o ano cá estarei novamente.

quarta-feira, maio 03, 2006

Ficção (38).

Quando entro em casa depois de ter trabalhado o dia inteiro e é noite, procuro nas divisões algum rasto teu e resigno-me a que seja o soalho o único a responder aos meus passos. Vou ligando as luzes, descalço os sapatos e arrumo no armário o casaco. Depois de um duche, sento-me no sofá. Sei que vou adormecer com o teu nome na minha boca e com o meu polegar prestes a marcar o teu número para te ouvir respirar; para te pedir que voltes; para que o sentir-me só acabe e possas ser tu quem desliga a luz da sala quando eu já durmo. É que me sinto cansado há anos.

Comentário desnecessário (51).

Por contar.

Um dia, ainda tenho de contar a história do masoquista que trabalhava na Sadomacas.

À procura de um texto autobiográfico (22).

Ou a história não era bem assim?
a história não era bem assim


[ Adília Lopes: Caras Baratas - Antologia. ]

A minha quarta-feira.

Acordar mais tarde do que o esperado. Relembrar o que é andar de metro depois de quatro anos sem o fazer. Comprar livros, comprar "coisas boas" no Celeiro e escolher finalmente umas armações novas. Voltar a casa. Lanchar tarde. Sorrir.