sábado, julho 22, 2006

Parcelas parciais.

Com o passar do tempo, o coração hipoteca partes.

quarta-feira, julho 19, 2006

Corrente de ar.

O vento atravessa a casa, derruba-me umas quantas folhas.

Levanto-me, fecho as janelas com pouca vontade e vou, aos poucos, acendendo as luzes.

Escalas.

Mas não me importo.

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa


[ Mário Cesariny: "voz numa pedra". Pena Capital. ]

Frases escritas agora.

Tenho o portátil em cima da mesa da sala e estou a escrever com as janelas que dão para o pátio das traseiras do prédio abertas. Os canteiros cheios de plantas. As buganvílias cujas cores preenchem toda uma parede e um pedaço de outra. E a mesa sobre a qual o tempo tem passado, rachada e enferrujada em juntas ocultas. Hoje acordei cedo.

O domínio do wireless.

Parte da tarde / noite de ontem foi passada a configurar o novo router wireless cá de casa. Depois de alguns meses a ameaçar

- Vou comprar um router! Vou, que isto não pode ser!

lá me decidi a comprar o dito cujo na sexta-feira passada. Foi ontem configurado pelo J. a quem já agradeci e agradeço a paciência evangélica. Não é que eu seja assim muito informaticamente iletrado - tenho é uma dose de sorte considerável, em termos de configurações e afins. O portátil que anteriormente servia de router

(sim, o portátil servia de router)

através de um simpático cartão PCMCIA foi finalmente reformado, podendo agora viver o resto dos seus dias em relativo descanso.

sábado, julho 08, 2006

Os cabelos brancos a que sorrio.

Sobre os cabelos brancos a que sorrio sabendo que os tenho agora. Numa fila de carros que partem rumo ao sul. Da boca imóvel isto. Vou ser uma criatura exótica e difícil de apanhar. Com cachecóis vários que prendo com um alfinete complexo e cintilante. Velho-maravilha sem ser velho. Vou dançar todas as noites, girar sobre mim mesmo enquanto grito obscenidades letradas e inaudíveis. Vou sentar-me à mesa e dizer que quero café e chá. Deitar-me tarde. Não dormir. Comer o mundo. Ser fanfarrão quanto baste, aviar receitas de substâncias ferozes que não tomo e que procuram dar-me o sono que me foge. Rir-me como se chorasse. Pintar quadros complicados.

SSRI.

O fazer das compras semanais.

No My Life without Me, a Ann diz, a dado momento, que ninguém pensa na morte nos supermercados. Não sei se é verdade, mas sinto-me tentado a concordar. Faço as compras semanais à sexta-feira à tarde, num hipermercado que nem fica muito perto da minha casa mas no qual me sinto completamente à vontade. Acho que há coisa de um ano escrevi um ou dois textos sobre "fazer as compras". Se mantenho muito do que disse, há aspectos que se calhar modificava. É que acho piada a andar pelos corredores e ver o que há de novo; a organizar no carrinho

(o diminutivo faz-me cócegas)

aquilo que vou comprar. Costumo ir até à ponta do dito hipermercado e depois desço - águas, sumos, refrigerantes, conservas, molhos, bolachas e chocolates, salgados, papéis, queijos, vegetais. E outras coisas de que me esqueço aqui. Posso ir para a caixa ou dar mais umas voltas; se dou mais umas voltas, vou aos vegetais no fim. Arranjo o que ponho no tapete rolante como quem faz um puzzle - vistas de cima, as minhas compras são como uma cidade bem planificada, com diferentes bairros dispostos milimetricamente. Para demorar menos a arrumar tudo quando chego a casa, faço a triagem logo ali: sei o que vai para onde a quilómetros dos armários. Se gosto de fazer as compras à sexta-feira? Gosto. E gosto do que fazer as compras significa - um bocado de tempo para pensar e não pensar; para ficar no por-entre.