quinta-feira, julho 16, 2009

Slight night shiver.

Acontece por volta das três da manhã: a janela está aberta, o vento que entra faz tremer os post-its amontoados em cima do Moleskine e ao lado do computador. Levanto-me, percorro a casa de uma ponta à outra, abro uma das duas janelas das traseiras; as quadrículas luminosas dos prédios extinguem-se uma após a outra. É tempo de dormir e estou acordado. Na rua, nenhum som. Pego no iPod, e ponho o "Slight night shiver" a tocar. Morrer é possível que seja isto: um silêncio aberto como a noite, o fio rítmico de um grilo, o ruído de carros que passam estocásticos sobre o pavimento gasto e irregular de uma estrada algures.

Sol.

Profissão de fé.

Atirar-me para a boca do lobo, e esperar sair ileso. Atirar-me para a fogueira, e esperar não arder um pouco que seja.

À procura de um texto autobiográfico (45).

Ramo

Talvez eu não consiga quanto amo
ou amei teu ser dizer, talvez
como num mar que tu não vês
o meu corpo submerso seja o ramo
final que estendo já não sei a quem


[ Gastão Cruz: A Moeda do Tempo. ]

O deserto começa aqui.

A realidade começa aqui. Não, aqui; mais ao lado. Era uma vez isto, aquilo, o outro. Por muito que te conte todos os pormenores da história - não, não te vou contar qualquer pormenor, ou sequer a história -, ficarás sempre na dúvida sobre se o que se passou aconteceu realmente assim ou não. Podes dizer que não queres saber, mas sabes que queres; podes dizer que te importa pouco, mas sabes que mentes. Vai comer-te por dentro; vai tirar-te o sono; vai fazer-te perder o apetite; vai deixar-te a ler-me nas entrelinhas, vezes sem conta, à procura de uma sílaba extraviada que me denuncie. Mas o deserto começa aqui.

Impromptu (1).

- Estás mais magro.
- Sim, ando a ver se desapareço.

quinta-feira, julho 09, 2009

The cruellest month.

Eliot errou: Abril não é o mês mais cruel - o mês mais cruel foi Junho. A emissão prossegue dentro de momentos.