quarta-feira, maio 12, 2004

Speechless.

Não consigo falar objectivamente de Battle Royale pela mesma razão que não consigo falar objectivamente de um número grande de coisas de que gosto verdadeiramente. E Battle Royale é, sem dúvida, um caso flagrante de amor à primeira vista. Tudo - mas tudo - me ficou na memória: história, personagens (quarenta alunos dos quais, em teoria, sobrará apenas um), a inexorabilidade (mas, sobretudo, a aleatoriedade) dos destinos destas, as paragens da narrativa (súbitas, instantâneas e, quase sempre, imprevisíveis) que deixam transparecer, não raro, os últimos pensamentos (quase nunca verbalizados ou, se verbalizados, tardiamente decifrados) de quem morreu ou vai morrer. E a inesquecível cena de Kitano, à chuva, com um guarda-chuva transparente, a virar-se para Noriko e a dizer-lhe para ter cuidado para não se constipar. Tudo, em Battle Royale, é para ser visto duas, três, quatro, cinco, seis vezes. Vezes suficientes para que consigamos digeri-lo. Vezes suficientes para que se nos entranhe e se nos grave na pele.

('Seja qual for a distância a que estiver, corre em busca do que mereces. Corre!')