terça-feira, setembro 13, 2005

Verbo: deixar.

Entra em casa. Fecha a porta atrás de ti. Acende a luz que te permite chegar até quase todas as partes da casa em que vives. Desliga a luz, agora capaz de encontrar o teu caminho no escuro. Senta-te no sofá. Suspira fundo. Liga a televisão em mute e assiste, impávido, ao espectáculo do mundo. Descalça os sapatos. Primeiro o esquerdo. Depois o direito. Tira a gravata.

(Despir a pele da pele. A pele. Dez pontos.)

Levanta-te do sofá. Vai, descalço, até à cozinha. Abre o frigorífico. Tira o tupperware marcado "terça-feira"

(feijoada)

e deixa-o em cima da bancada. Deixa a cozinha. Acende a luz da casa de banho, deixa cair o casaco que vestes no chão. Lava a cara com água fria e olha-te

(sistema cardiovascular arteríolas capilares sangue)

ao espelho. Contempla, no cabelo farto, os vagos brancos que to pontilham. Sai novamente. Vai até ao quarto. Senta-te em cima da cama e diz, para ti, que vais apenas descansar os olhos. E adormece.

(Quando acordares, será outro o dia.)