A lucidez difícil de quem escreve.
Passo os olhos por dois ou três textos que podia pôr aqui hoje, alguns escritos nesta semana; outros há uns dois anos. Guardo-os para outra altura: são demasiado deprimentes e / ou problemáticos. O dia foi bom. Fui até Oeiras e aproveitei para fazer umas compras necessárias. A caminho do Alto da Barra dei por mim longe dali. Parei para olhar para o mar e o frio entrava-me nas mãos. Fiquei uns minutos assim. Passei pelos sítios por onde dava voltas de carro quando ali vivi. Não tive saudades. O reconhecimento dos lugares, do casario pelo qual os anos passaram como por mim. Estou mais velho. Uso uma barba cheia que, dizem-me, me envelhece. Menos cabelo. Cada vez menos. Na televisão aproveito para rever o All I Want, do Rufus Wainwright. Reparo no pé descalço dele enquanto toca
(uma meia cinzenta)
e fascino-me. Nunca tinha dado por isso antes. A T. escreve de pernas cruzadas no sofá. Na sala, o aquecedor murmura calores. E eu termino este texto e passo ao seguinte.
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