Ficção (48).
O mágico parou a meio do palco. As luzes incidiam directamente sobre o cabelo que insistia em desaparecer. Pensou por momentos que talvez fosse esse o truque: o seu cabelo estar a desaparecer mesmo à sua frente, todos os dias, aos poucos; ou talvez o ter sido deixado pela mulher numa terça-feira ao fim da tarde, restando dela um bilhete escrito a Bic que não lera ainda. Talvez o truque fossem todas as noites que passou acordado a pensar no que fazer a seguir, ou no que andava a fazer; todos os empregos que teve e não teve para que os filhos acabassem a Faculdade. O público aguardava.
Sem hesitar, arregaçou primeiro a manga esquerda; depois a direita. Virou as palmas das mãos para a frente e disse, seco,
- Nada na manga
sabendo perfeitamente que não falava de ilusionismo; que esgotara todos os truques.
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