E os amigos, como estão?
Um filme numa língua que não a minha, como tantos dos que vejo. E os amigos, como estão? Os amigos estão longe. Parte deles, pelo menos. Andam espalhados pela Europa; alguns vivem ou passaram a viver noutro continente. Os que estão por cá é raro vê-los: trilhamos caminhos paralelos na mesma cidade, e passam-se anos sem nos cruzarmos. Vêm-me à cabeça sete versos de Daniel Jonas e um de John Donne. O de Donne — que se tornou um chavão incontornável — repete-se como uma mnemónica, um risco no vinil, No man is an island, entire of himself, e eu na azáfama das chegadas e partidas que tornam os países do meu mapa-múndi pessoal cada vez mais longínquos uns dos outros e de mim. Há na porta do frigorífico uma garrafa de Sauvignon, que normalmente me levaria a pôr em cima da bancada da cozinha dois copos, servir o vinho, fazer conversa até horas impróprias. É coisa que não faço há algum tempo e a que sinto a falta. Como torno eu presente quem está em Londres, Bruxelas, São Francisco, São Paulo, sem que seja pela memória ou pelo éter com que se cosem agora tantas das minhas amizades? Não torno, por não haver como. A distância vence este assalto.
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