A epifania bate sempre duas vezes (1).
Uma chávena de café é uma coisa maravilhosa. É que isto não é cafeína - é uma epifania; é uma bênção sub-reptícia, uma coisa que se te infiltra na pele, nos ossos, no sorriso e nas unhas que deixaste de roer. Isto é o teu coração a rebentar pelas costuras, a bater colcheias e tercinas e duínas a 132 bpms. Isto é luz, senhores. Isto é luz pura que fere. Isto é o resultado de anos e anos de mãos abertas, à chuva, a tentar encher crateras. Isto são vómitos e tosses e regurgitações sucessivos - memórias de sacudires de corpos. Isto é tudo. Alfa, pi, ró e omega. Tudo. Todo o teu alfabeto num vácuo, num esconso, num vão de escada. Inútil. Isto é café; negro-negro; sem açúcar ou esperança. Só café. Que te tinge a boca de amargo e te lembra de peles passadas, de miares de gatos e de pés frios nas tábuas do soalho.
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