Ficção (9).
Deste por ti na cama, de olhos no tecto, a fazer uma contagem decrescente
(cinquenta e nove, cinquenta e oito, cinquenta e sete)
porque não conseguias dormir e pensaste que, contando de trás para a frente, talvez o sono chegasse, talvez
(cinquenta e seis, cinquenta e cinco, cinquenta e quatro)
a memória dele desaparecesse; que talvez pudesses ter uma noite de sono sem recorreres aos já tão habituais Dormicums. Como sempre te enervou ficar na cama quando não consegues dormir,
(cinquenta e três, cinquenta e dois)
levantas-te, abres a porta do teu andar (o último do prédio em que vives) e sentas-te na escada, em pijama, a olhar para um céu contido numa clarabóia suja;
(cinquenta e um, cinquenta, quarenta e nove)
até que te esqueces de contar
( )
e adormeces, encostada de leve à parede.
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