Mudança súbita de compasso e andamento.
De repente tornei-me normal. Notou-se primeiro nos meus horários: acordar à uma deu lugar a acordar às nove e pouco. Tomo o pequeno-almoço e leio ou escrevo; posso fazer pausa para almoço, mas não é frequente isso acontecer. Trabalho pela tarde, chá às cinco, jantar um pouco mais tarde. Estou cansado às duas da manhã. Não fico acordado a olhar para o tecto. Adormeço no sofá às vezes e acordo passadas duas ou três horas.
Ocorre-me pensar em coisas soltas como a erva que cresce nas frestas da calçada aqui do bairro, o buraco
(onde antes esteve uma casa)
no contínuo de prédios umas ruas acima, a tua tosse presencial ou como acordo a meio da noite, sem que dês por isso, para me sentar na sala a olhar para o espaço em branco na parede. Dois meses depois de começar a viver aqui, deixei de contar os aviões que passavam. Deixei de reparar nos carros e nos comboios. Acostumei-me.
No vazio onde antes existia uma casa, existe agora uma escavadora e canos como grandes artérias espantadas. Um tédio substituiu o outro. E assim, sucessivamente, a mim.
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