Ficção (42).
As faltas de ar, os choros espasmódicos, a aversão à rua, aos outros; a incapacidade de fazer tarefas minúsculas sem cansaço ou sem hesitar ou sem querer simplesmente dormir. Ando assim desde há quatro semanas. Finjo o mais que posso que está tudo bem. Durmo ou pouco ou em demasia: acordo às sete da manhã, às oito, às nove. Adormeço frequentemente a um canto do sofá. Ando triste durante uma grande parte do dia e quando me ligam puxo músculos que não fazia ideia de que existiam para conseguir sorrir. Quando me dizem
- Tu tens de perceber que tens muita sorte
só oiço o ranger dos maxilares de quem fala e um ruído seco de solas gastas. É que eu sei que tenho sorte e isso tudo. Só que - e é esse o problema, neste momento - me sinto cansado e isso muda tudo.
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