Os limites da manipulação.
O "No I in threesome", dos Interpol, é das músicas mais deprimentes que ouvi nos últimos tempos. Destrutiva mesmo. Isto porque traça o percurso de um casal que, estando junto há anos, começa a notar as marcas do tempo e a erosão do relacionamento. Até aqui nada de novo. A minha objecção surge
(e, no fundo, este texto também)
quando é sugerida como solução possível para as discussões e para os problemas a dois
(Oh, alone we may fight)
uma terceira pessoa, justificada parvamente com o pretexto da experiência de coisas novas
(Babe, it's time we give something new a try)
que podem beneficiar a relação existente. Acho isto deprimente? Acho. E não tem nada a ver com a introdução meramente sexual de uma terceira, quarta ou quinta pessoa num relacionamento existente entre duas. Tem a ver, isso sim, com a contextualização dessa introdução como forma de dar novo alento a / salvar algo que definha de dia para dia: aqui, experimentar coisas novas não salva, nem deixa de salvar, seja o que for. Não se trata do início de uma nova fase a três: trata-se do princípio do fim.
Duas pessoas: uma sabe que a relação vai acabar; a outra não. A que sabe que a relação vai acabar aprende a manipular a situação
(leia-se "o outro")
até um ponto que lhe seja vantajoso. A que não sabe que a relação vai acabar - e que espera que "as coisas se resolvam" e não acabem - cede: primeiro pouco; depois mais; depois tudo. E é precisamente a manipulação que está na origem desta cedência, não a cedência em si, entenda-se, que é abjecta.
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