quarta-feira, abril 02, 2008

Margarida.

Morto o marido, torna agora à casa que tinham perto da Azambuja. Abre caminho por entre as ervas que cresceram no pátio; abre a porta. Cumprimentam-na o pó e as coisas de há dois anos nos mesmos sítios de há dois anos. Uma dor no joelho, uma ida ao hospital e, de repente, cancro; de repente o tempo contado; seis meses. Seis meses e o marido

(o Carlos)

morto. No armário do quarto pairam ainda três camisas dele, um par de calças, os chinelos e os óculos que usava para ler à noite ou depois do almoço. Na cozinha abre as torneiras. Deixa-se ficar a ouvir o engulho dos canos. Abre as persianas apenas o suficiente para não ter de acender a luz. No tampo empoado da mesa da sala escreve a limpo o nome dele; deixa-o ficar durante um minuto. Depois apaga-o com as costas da mão direita.