Ficção (57).
Era capaz de jurar que o teu cheiro estava na entrada do prédio onde vivo e escada acima. Abro a porta, sinto-o na rua a virar à direita, e penso que estiveste ali mesmo agora. Relativizo: estás em casa, à frente da televisão, provavelmente com a cabeça tombada um pouco para trás na almofada do sofá. Dormes ou quase. A cara que fazes quando tens sono - e que observo sem que notes - vem-me à memória. Talvez tenhas ido sair sozinho ou com amigos. Mais tarde e bêbado, talvez metas a chave à porta do teu antigo prédio; não serve, apercebes-te de que te mudaste. Como não queres voltar ao teu apartamento vazio, telefonas-me e pouco depois tocas-me à porta, pronto para passar o que resta da madrugada e a manhã tombado exausto no meu sofá, na minha sala - na casa que podia ter sido a nossa.
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