O salto.
Chove. Ao fundo do pontão há a forma de uma mulher; tem os braços e a roupa colados ao corpo; olha para a água com a certeza adiantada do salto. Calcula que não demorará: está frio, não nada há anos, sente-se cansada - não há-de debater-se muito. Os lábios mexem-se devagar; não fosse a estática da chuva, talvez se percebesse o que diz. Pára de chover. No pontão não há já a forma de uma mulher com braços e roupa rentes ao corpo. Os círculos concêntricos na água cessaram, restando apenas um - maior, mais agitado - que, não tarda, se aquietará também. Um pouco à tona, um lenço vermelho que se espalha e escurece para logo deslizar subaquático, como uma mancha de sangue indissolúvel.
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