De sterrennacht.
Uma estrada e um homem. O homem está parado no meio da estrada. É de noite. De tantos em tantos metros, um candeeiro emana uma luz que se sustém com dificuldade até às suas fronteiras, onde toca o território da do candeeiro seguinte. Parado na berma, um carro: um pneu furado, um motor voluntarioso, um depósito que não bastou para chegar até à bomba ou povoação mais próximas. É Verão. Acima, um céu estarrecido - estúpido e estrelado como os céus estivais. Debaixo deste, o homem parado. Tem vestidas umas calças de tecido cinzento-claro, uma camisa branca com as mangas arregaçadas; a gravata e o casaco estão perdidos algures no banco traseiro. Em breve, há-de cansar-se de procurar na distância o fogo-fátuo de um qualquer lugarejo a que pudesse chegar a pé, à procura de dormida ou auxílio. Há-de virar-se na direcção do carro: tornar a ele, abrir a porta do lado do passageiro, entrar, trancar-se dentro, fechar vidros, rebater o assento, pôr por cima do tronco o casaco, adormecer até daí a horas. Para onde irá pouco importa - como pouco importam o sítio de onde veio, o porquê da pressa naquela estrada gasta, a mão envolta num lenço com uma mancha fluida e férrea. Chegado aqui, é inútil voltar atrás. E adiante, sabe-o bem, nada o espera.
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