Uma mentira para o ano novo.
Entre o fim do ano velho e o início do que se lhe segue, houve
duas mortes — a de um animal querido, a que me parece ainda ouvir os passos ou
o ladrar, quando entro na casa onde o encontrava sempre, e a da minha avó
paterna, que nos últimos anos se apagara aos poucos e constantemente, até pouco
mais restar do que os contornos hesitantes do seu corpo. Em Março, o título de
um post aqui deixado mentia: não estava de volta à vida. À data, foi a mentira
deste ano, até porque não tenho queda para o género. De então a esta parte,
aconteceu o que acontece sempre: projectos e planos (que não são sinónimos),
noites passadas em boa companhia, conversas até horas simpáticas, a escrita e a
fotografia a sair da hibernação teimosa em que se encontravam, um
desvio na carreira de tradutor-traidor, concertos, os dias mais longos. Na estante que
habita o vazio que antes existia por baixo da janela do meu escritório, os
livros começaram a multiplicar-se. Bom sinal, digo eu. E agora, se não se importam,
de volta à vida.
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