82 1 22.
Ter um pai que morre quando somos muito novos e nunca sentirmos nada. Porque uma ausência dessas não se sente. Não nos conseguirmos lembrar da cara dele, da voz dele, do sorriso dele quando nos pegava ao colo, encantado com a criança de caracóis revoltos que segura nos braços. Não nos lembrarmos de nada desse dia. Não nos lembrarmos de nada desses dois anos em que ele ainda existiu. E olharmos para a fotografia e apercebermo-nos, vinte e três anos passados, de que, afinal, sentimos alguma coisa. De que o nosso sorriso é também o dele.
("Olá, pai. Sou eu.")
<< Home