Do presente para o passado para o presente.
Abre o guarda-chuva e sai do carro. Anda os escassos metros que te separam da porta. Fecha o guarda-chuva ainda fora e entra. Senta-te. Pede um café e uma torrada. Olha em volta. Ninguém.
(Domingo típico.)
Tira o jornal da mala que trazes sempre contigo e deixa-o pousar na mesa. Finge ler. O café e a torrada chegam. Através das grandes janelas do sítio onde estás consegues ver o pouco que resta da praia, coberta agora pelas ondas. Entra alguém. Não reparas. Bebes o café como um reflexo. A torrada emurchece.
(Nova bátega de água no pontão. Cada vez menos areia à vista.)
Lembras-te de, quando eras mais pequeno, ires buscar a B. à estação do Estoril; a B. que te chegava sempre sorridente, que mais não fosse por te ver; a B. que parcialmente se responsabilizara pela difícil tarefa de te contar histórias em miúdo - histórias diferentes de cada vez que te eram contadas, não muito distantes das que ouvias, repetidas vezes, nas cassetes que estragaram gravadores atrás de gravadores (permanecendo elas milagrosamente ilesas). Lembras-te de, ainda na estação, comeres o rebordo (os "dentes") dos queques que um café, agora inexistente, vendia - e do gozo que isso te dava; do sabor do açúcar, da textura da massa do bolo.
Chamas o empregado:
- Desculpe, já agora, era um queque, por favor...
(E repetes os ritos antigos.)
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