terça-feira, setembro 20, 2005

Do presente para o passado para o presente.

Abre o guarda-chuva e sai do carro. Anda os escassos metros que te separam da porta. Fecha o guarda-chuva ainda fora e entra. Senta-te. Pede um café e uma torrada. Olha em volta. Ninguém.

(Domingo típico.)

Tira o jornal da mala que trazes sempre contigo e deixa-o pousar na mesa. Finge ler. O café e a torrada chegam. Através das grandes janelas do sítio onde estás consegues ver o pouco que resta da praia, coberta agora pelas ondas. Entra alguém. Não reparas. Bebes o café como um reflexo. A torrada emurchece.

(Nova bátega de água no pontão. Cada vez menos areia à vista.)

Lembras-te de, quando eras mais pequeno, ires buscar a B. à estação do Estoril; a B. que te chegava sempre sorridente, que mais não fosse por te ver; a B. que parcialmente se responsabilizara pela difícil tarefa de te contar histórias em miúdo - histórias diferentes de cada vez que te eram contadas, não muito distantes das que ouvias, repetidas vezes, nas cassetes que estragaram gravadores atrás de gravadores (permanecendo elas milagrosamente ilesas). Lembras-te de, ainda na estação, comeres o rebordo (os "dentes") dos queques que um café, agora inexistente, vendia - e do gozo que isso te dava; do sabor do açúcar, da textura da massa do bolo.

Chamas o empregado:

- Desculpe, já agora, era um queque, por favor...

(E repetes os ritos antigos.)