Espaço para novas mensagens.
É-me especialmente difícil apagar mensagens escritas que tenha guardadas. Sobretudo porque penso que, se as tenho guardadas, por alguma razão será. É que uma mensagem escrita não é só aquele conjunto - maior ou menor - de caracteres no ecrã: é tudo o resto, todo o contexto de escrita, envio e recepção.
Esta tarde, porque precisava de espaço para novas mensagens, deu-me para começar a ver as relíquias que tinha na memória do telemóvel. E espantei-me por descobrir mensagens ainda de dois mil e três e dois mil e quatro que, entre outras coisas, combinavam almoços, cafés, jantares, lanches e idas ao cinema comigo; me desejavam um feliz Natal e uma óptima entrada em dois mil e quatro e dois mil e cinco; me felicitavam pelo meu vigésimo quarto e vigésimo quinto aniversários. E depois as outras: as dúvidas existenciais, os problemas afectivos, a solidão, questões de ortografia, conselhos e pedidos de ajuda aos mais variados níveis e sob as formas mais diversas.
Pelos telemóveis que tive antes deste - e por este também -, tenho espalhados centos de mensagens, mapas parciais e parcelares dos anos em cento e sessenta caracteres.
(Narrativas curtas, minhas e dos meus, que me recuso a apagar.)
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