Ficção (20).
E depois era o fim. Era o teu corpo no dele e o dele por toda a parte; os ofegares que enchiam as assoalhadas ainda vazias
(ele tinha-se mudado há pouco tempo; a ti pouco te importava)
com rapidez alarmante. Quando chegava tudo ao fim, ele sentava-se na cama, vestia as calças, dizia qualquer coisa muito baixo, levantava-se, desligava as luzes e depois deitava-se ao teu lado
(tu de olhos fechados)
onde acabava por adormecer em tronco nu, abraçado a ti. Acordavas com ele a olhar-te. Escondias-te debaixo dos lençóis por teres um feitio avesso a elogios mesmo que mudos. Beijava-te o pescoço e, com a voz trôpega do sono, dizia-te coisas
(- Amo-te, sabes?)
que tomavas como um linguajar remoto, porque nunca as tinhas ouvido. Ele era o começo de tudo, distante de todos os fins. Ele era o fim de todos os teus começos.
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