Ficção (39).
Eu não sou eu. Por exemplo a atravessar a rua não sou eu: não olho para os dois lados mas tenho medo de algum carro que possa passar. Não sou eu a escolher livros, CDs, a conduzir os mesmos percursos como espessos carris nos quais me desloco. Não sou eu quem traça a perna como quem erige um muro; quem ajeita os nigérrimos óculos com fulminante apetência; quem bate com as mãos no chão com muita força para que tudo pare. Como e bebo como quem não está cá. Continuo a acordar a meio da noite e a dar voltas meigas como um gato impaciente. Meto gasolina. Tomo café. Funciono.
E, porque a negação é total e sintomática, não sou eu a escrever isto. Não, já disse que não sou eu.
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