O meu nono ano.
O meu nono ano era eu magro, com os ossos ásperos a roçarem-me a pele; o meu nono ano era eu passar os portões da escola, pela manhã, com palavras que me pareciam uma espécie de mantra sinistro, um encantamento digno das bruxas de Macbeth - palavras a que guardei, durante tempo, enorme rancor. O meu nono ano era eu sentado num conjunto de quatro mesas, numa aula de Educação Visual, sem ninguém em redor; era eu no princípio do cansaço. O nono ano passou. Anos posteriores passaram. São poucas as pessoas desse tempo a quem dirijo hoje palavra mesmo quando me interpelam. Não se trata de algo mal resolvido, entenda-se. Pelo contrário: trata-se de respeitar a decisão, consciente ou inconsciente,
(não o discuto, não me cabe discuti-lo)
de invisibilidade que outros fizeram ao proferir as palavras que os obliteraram, completa e irreversivelmente, da minha superfície.
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