terça-feira, agosto 01, 2006

Beber whisky sours no Verão.

Estou a escrever isto depois de ter emborcado dois whisky sours. Como entende quem me conhece - sabendo perfeitamente que a minha tolerância ao álcool é mínima e que lhe cedo facilmente -, estou neste momento com a cabeça no rodopio característico dos ébrios. E, ainda assim, as vírgulas e as palavras de dez contos vão saindo, o que é engraçado para comprovar que o instinto da língua e da linguagem

(não, não são a mesma coisa)

vai sempre sobrevivendo. Dou um gole no copo suado que tenho na mesa ao meu lado. Estou sentado, com a janela aberta à minha esquerda. Consigo seguir as várias vozes de uma data de coisas do Bach que oiço em simultâneo na aparelhagem da sala e do quarto. Num sítio uma coisa. Noutro sítio outra. Volume no máximo. É uma confusão de sons que me mantém lúcido apesar de tudo o mais. Penso em verbos estranhos terminados em -ar. Há roupa estendida atrás de mim e não é minha. Sou capaz de ficar horas a olhar para os pormenores da roupa que as pessoas usam. A roupa inofensiva entre o lavar e o engomar, altura em que se torna arma ou cavalo de guerra.