quarta-feira, julho 23, 2008

Kübler-Ross.

Atirar a bóia ao mar, perder o mundo. Fingir que não te fujo e fugir-te em seguida. Pintar os olhos, as unhas, afiar a língua. Fazer gorjeios ao telefone e dizer-te que não sou tua. Deitar fora a mobília, os retratos em que estamos. Dizer à tua mãe que és impotente. Chocar vizinhos, falar alto, ser escabrosa. Deixar-me ser vista à noite em cores garridas, com companhias para ti impróprias. Arrancar-te os dedos à dentada. Mandar toalhas da janela, lençóis, almofadas. Arranhar as paredes e molhar o colchão nu com a minha cara. Dizer adeus ao teu cheiro metido nos poros dos cortinados. Viver sem ti daqui para a frente, com os pés frios à noite e um despertador como marido.