A cena do crime.
Revisitar a cena do crime é sempre complicado, por muito que a ficcionemos, ou ao crime, ou a ambos; ou à vítima; ou a nós mesmos ali. Um dia o cadáver não está no mesmo sítio: um pouco mais para o lado, o braço esquerdo num ângulo ligeiramente mais recto, os traços grossos de giz à sua volta esborratados por passos descuidados. As provas turvam-se. Pedem-nos pormenores: como aconteceu, porquê, porquê agora, não teria havido outra maneira? A nossa memória das coisas - turvada desde o primeiro momento - de pouco serve ao contexto. Falha-se a condenação, e nesse fracasso condenamo-nos ao que desde o início fizemos: a revisitar a cena do crime, encontrando vezes seguidas um cadáver irresoluto, que se desloca mais para lá ou mais para cá consoante os dias, sem que do crime - um crime duradouro e sustido - reste agora coisa alguma.
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