Noites (6).
É meia-noite e pouco e a casa cheira ao bolo de chocolate que acabou de sair do forno e da forma há minutos. No andar de cima pouco movimento. Na rua, se algum, inaudível: as portadas da janela estão fechadas porque há juntas e frinchas pelas quais o frio vai entrando, invadindo o quarto. Como as janelas deste lado da casa são de outro tempo, perdoa-se-lhes isso. Na sala, a televisão vai fazendo o burburinho imperceptível de sempre, emudecido mais ainda pelo aquecedor sem o qual é impossível passar a noite ali. Esta seria a altura em que saía daqui da cadeira, ia até à cozinha, punha café a fazer. Só que deixei de beber café - assim, de um momento para o outro. Substituí-o por uma infusão de hortelã-pimenta, bebida mais doce do que o costume. Ao meu lado no braço do sofá - ou em cima da secretária, à direita do computador -, a chávena fumega à medida que avanço pela madrugada. Há vezes em que me esqueço dela e quando a descubro está já fria; outras em que se acaba tão depressa que não tem sequer tempo de arrefecer.
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