quarta-feira, dezembro 31, 2008

Youth.

Foi tirada em Oeiras há coisa de treze anos. O que é muito. Gosto do facto de ter sido tirada às nove e quarenta e três da manhã. Gosto do cabelo enorme para os meus actuais critérios, das borbulhas vestigiais e vermelhas ao cimo da testa; dos óculos que usava, da barba por fazer debaixo do queixo que não via nu há tanto tempo; do meu corpo ainda seco. Gosto da buganvília lá atrás, da serigrafia da Maluda meia escondida dentro de casa. Talvez aquando do disparo tenha pensado ou mesmo dito

- A sério, mãe, para quê a fotografia?

com o habitual ar de cansaço que fazia. Talvez daí a expressão com que estou. Cansado aos quinze anos, que ridículo. Lembro-me de algumas, tiradas um ano antes, em que era apenas um esqueleto sorridente e escuro - uma semana e meia nos Açores, a dormir pouco e a comer mal, teve esse efeito. Depois da saída de um nono ano agreste, que me deixou com pele, osso e pouco mais, esta fotografia: achada hoje por acaso aqui em casa, como um fantasma que resolve finalmente vir tomar chá. Ponho-a de parte. Acendo a luz da casa de banho e olho para o espelho. Se hoje passasse por mim na rua, acho que não me reconhecia.