quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Debaixo do tapete.

Não te encontro debaixo do tapete, como a chave da porta da entrada. Não estás dentro do bule ou das latas de chá. Tão-pouco achei sinal teu no pó dos livros, ao fundo das gavetas mais fechadas, dentro da terra dos vasos da varanda, atrás dos quadros da sala, ou debaixo do sofá. Hei-de procurar o teu corpo por toda a parte sem vez alguma te achar; calcorrear as ruas da cidade; correr os alfarrabistas mais obscuros onde apenas uma luz poeirenta existe entre as lombadas abolorecidas e as paredes salitrosas. Hei-de sentar-me nos degraus das igrejas para ver se te vejo, sabendo tão bem que se te visse não te reconheceria já e me passarias ao lado. No ciclo errático dos dias em que te procuro com a certeza de não te achar, hei-de cansar-me - de mim, de ti, desta busca tão estúpida quanto coxa. E sei que aí, nesse cansaço, te encontro: à minha porta, com ar de quem espera há anos que eu chegue a casa para poder finalmente entrar, uma vez que debaixo do tapete não havia chave ou sinal de mim.