terça-feira, abril 28, 2009

Instruções.

Começa por descrever a trajectória do homem ao chão, diagonal e perpendicular a tempos. Elenca o ruído mudo do tombo do homem na espessura do tapete - como a mancha avermelhada abre caminho, lenta, por entre o relevo do estampado. O homem não está morto: bebeu apenas em demasia. Descreve a garrafa destapada, deixada em cima da mesa da sala. Descreve o brilho das luzes, que ressoa no copo ao lado do corpo tombado do homem; o silvo eléctrico dos filamentos das lâmpadas; a televisão que o temporizador desligará daí a minutos; os pássaros esporádicos na grande árvore ao centro da praceta. Termina na entrada do apartamento, na chave que se mantém imóvel na fechadura: do lado de fora, alguém bate na porta com força suficiente para a fazer estremecer, e chama alto por um nome irrelevante - um nome que crê que não lhe tornará a responder. Mas não é esta a vez derradeira.