Os cabelos brancos a que sorrio.
Sobre os cabelos brancos a que sorrio sabendo que os tenho agora. Numa fila de carros que partem rumo ao sul. Da boca imóvel isto. Vou ser uma criatura exótica e difícil de apanhar. Com cachecóis vários que prendo com um alfinete complexo e cintilante. Velho-maravilha sem ser velho. Vou dançar todas as noites, girar sobre mim mesmo enquanto grito obscenidades letradas e inaudíveis. Vou sentar-me à mesa e dizer que quero café e chá. Deitar-me tarde. Não dormir. Comer o mundo. Ser fanfarrão quanto baste, aviar receitas de substâncias ferozes que não tomo e que procuram dar-me o sono que me foge. Rir-me como se chorasse. Pintar quadros complicados.
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