quarta-feira, agosto 20, 2008

Sapateado.

Toda a transparência surpreende a princípio. Reparou primeiro que não olhavam para ele, mas através dele. A retina capturava o que supunha ser essencial e o que sobrava ficava à margem, numa caixa com uma etiqueta onde se podia ler "Outros". Sorria demasiado, talvez fosse esse o problema. Sorria tanto que passava por parvo. Não o fazia por obrigação: achava genuinamente engraçadas muitas das coisas que lhe diziam e mostravam. Mas as pessoas ficavam-se pelo sorriso, pelo jogo de palavras inteligente, sem chegarem a perceber que aquilo era sapateado do mais preciso que alguma vez fizera: um passo em falso, caía, não se tornava a levantar.