sexta-feira, abril 10, 2009

A mulher oca.

Uma casca daquilo que foste, e apenas isso: esvaziada de propósito ou significado, repetindo vez após vez os mesmos gestos apagados, as mesmas palavras que são também elas casulos esventrados das de antes. Quando corres cada divisão da tua casa, quando limpas o pó, quando preparas o jantar ao marido que pensas legitimar-te a existência, quando recebes mecanicamente os teus escassíssimos amigos, lembra-te: não és tu quem o faz - tu mataste-te, e para que não pudesses voltar enterraste o corpo longe. Quem persiste no teu lugar é tão-só a tua sombra translúcida, o fantasma de ti mesma - puído e cortês, de olhar ausente como o dos manequins a que desmontam corpo inteiro sem esgar de dor.