quarta-feira, maio 25, 2005

Latitudes da invisibilidade.

Sair de casa e dizer adeus àquela parte do mundo por umas horas. Tudo o que há, lá fora, é a noite e o vento frio.

Andar até ao fundo da rua, virar à direita e novamente à direita. Atirar com o corpo para dentro de um táxi, murmurar um sítio entre dentes e ser levado. Por entre casas de pintura descascada. Por baixo de candeeiros de metal e plástico velhos. Pelo meio da luz que cresce e se extingue. Pela ilharga triste de paragens de autocarro com velhos e estudantes que esperam.

(Ser levado.)

E a luz sempre a luz. E o perpétuo móvel da conversa do taxista que perco sem dificuldade. O vidro sujo. O barulho dos pneus no alcatrão. Os traços amarelos nele. E a luz.

(Sempre a luz.)

Chego. Saio do carro. Digo boa noite como diria a fórmula para calcular a área de um círculo. Não penso nem sinto. Automático. Espero que o vermelho fique verde. Atravesso a estrada. O frio ainda. Desço a rua. Esqueço-me de mim. De onde estou. Continuo a andar. As portas automáticas abrem-se. Peço um café que bebo sem dar por isso. Sento-me. Tiro o casaco. Abro o livro. Leio. Fecho o livro. Levanto-me. Pego no casaco e na mala. Ando. Entrego o bilhete à entrada para as salas. Indicam-me o lugar. Sento-me. Agradeço mecanicamente com uma facilidade educada de anos. As luzes apagam-se.

Cheguei.

(Pi vezes 'r' ao quadrado.)

Alheio ao mundo. E ele a mim.