Fevereiro passado.
Fevereiro foi um mês de muitos verbos violentos. Destes destaco mudar e cortar, sendo que me é muitas vezes necessário cortar quase em absoluto para poder mudar alguma coisa; quase, que nenhum corte é absoluto, bem sei. Mudou-se de tudo um pouco: roupa e hábitos; a disposição da casa e a disposição com que andava; de ares e de música e de noites e de dias. Leu-se bastante, mas nem de longe o suficiente; escreveu-se um pouco, mas nem de longe o bastante. Chorar foi outro verbo de Fevereiro; e pensar; e beber, talvez em demasia; e dormir, quase sempre de menos. A par destes verbos, aqueloutro - cortar: do cabelo à rotina; cortar com aquele cansaço persistente e com os fantasmas mais pesados; com a pele amolada dos anos, das tristezas, e de uma mão-cheia de verbos a cujo elenco de caracteres não devemos sequer emprestar a voz. E contigo - cortar contigo como quem corta tecido: rasgar a direito, seguindo o fio até que finde. Fevereiro foi um mês pródigo em verbos difíceis e aguçados e tão necessários. Foi, terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo. Quanto a mim, já é Março.
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