Casa, floresta, homem.
Comecemos pelo princípio.
Há na floresta uma casa e na casa uma floresta. Qual está dentro de qual importa pouco para a história, e bastará talvez dizer que ambos existem relativamente a par. Dentro da casa e dentro da floresta há um homem e dentro do homem ambas - casa e floresta -, em graus diferentes de certeza e presença. Acreditemos que todos os dias o homem se ausenta da casa para tornar a ela chegada a noite. Acreditemos também que durante o dia, na casa, apenas o pó se move, aterrando um pouco por toda a parte depois de flutuar errático na luz que entra irregular.
Comecemos pelo fim.
Na casa não há um homem. Na casa não há tão-pouco a floresta, o pó coreografado, a luz que a atravessa. Sejamos francos, na casa não há sequer a casa, ou na floresta a floresta. À noite, quando nos deitamos, podemos deixar-nos pensar nestes três tristes actores - casa, floresta, homem -, ficcionais como o melhor dos venenos. Acabaremos por plantar as árvores, vê-las crescer, serrar quantas necessárias para termos madeira suficiente para construir casa e mobília. Não contentes ainda, poremos a mesa, deixaremos o tacho ao lume e a porta entreaberta - a armadilha pronta para que o elemento em falta chegue, entre, e não possa mais sair. Diremos então que há na floresta uma casa e na casa uma floresta e um homem dentro de ambas e com elas dentro. Começaremos pelo princípio.
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