Isso mesmo.
Podia escrever sobre Lisboa: sobre a luz da cidade, sobre o azul característico do céu, que varia consoante o sítio onde estejamos. Podia falar do rio visto dos miradouros, do passar da aragem de Verão na espessura das árvores ao longo das calçadas íngremes; dos jardins pequenos, semeados um pouco por toda a parte. Mas não. Escrevo antes isto: é segunda-feira, pouco passa das quatro, estamos no Noobai, e vamos ficar aqui até pouco depois das nove. No tempo que decorre entre o momento da chegada e da partida, pedimos umas dez ou doze bebidas, que consumimos com rapidez proporcional ao calor que está; destaco a limonada suíça. Passamos a tarde a falar, sem nunca nos faltar o assunto; ficamos exaustos de tanto rir. À hora a que saímos, há já um vento fino que nos corre por baixo dos pés e rente aos ombros, aos braços. Despedimo-nos junto a um semáforo; a luz passa a verde: ela desce a Rua do Alecrim, eu sigo para o metro. A dado momento penso "Alguém que confunda quem sou com o que escrevo não me reconheceria". É isso mesmo.