Maiúsculas
"So that I may say at all times, even when you do not answer and perhaps hear nothing, something of this is being heard, I am not merely talking to myself [...]." (Samuel Beckett, Happy Days)
segunda-feira, maio 28, 2012
segunda-feira, maio 21, 2012
Uma mentira para o ano novo.
Entre o fim do ano velho e o início do que se lhe segue, houve
duas mortes — a de um animal querido, a que me parece ainda ouvir os passos ou
o ladrar, quando entro na casa onde o encontrava sempre, e a da minha avó
paterna, que nos últimos anos se apagara aos poucos e constantemente, até pouco
mais restar do que os contornos hesitantes do seu corpo. Em Março, o título de
um post aqui deixado mentia: não estava de volta à vida. À data, foi a mentira
deste ano, até porque não tenho queda para o género. De então a esta parte,
aconteceu o que acontece sempre: projectos e planos (que não são sinónimos),
noites passadas em boa companhia, conversas até horas simpáticas, a escrita e a
fotografia a sair da hibernação teimosa em que se encontravam, um
desvio na carreira de tradutor-traidor, concertos, os dias mais longos. Na estante que
habita o vazio que antes existia por baixo da janela do meu escritório, os
livros começaram a multiplicar-se. Bom sinal, digo eu. E agora, se não se importam,
de volta à vida.
Departures.
Along some northern coast at sundown a beaten gold light is waterborne, sweeping across lakes and tracing zigzag rivers to the sea, and we know we're in transit again, half numb to the secluded beauty down there, the slate land we're leaving behind, the peneplain, to cross these rainbands in deep night. This is time totally lost to us. We don't remember it. We take no sense impressions with us, no voices, none of the windy blast of aircraft on the tarmac, or the white noise of flight, or the hours waiting. Nothing sticks to us but smoke in our hair and clothes. It is dead time. It never happened until it happens again. Then it never happened.
[ Don DeLillo: The Names. ]
Factos e fatos.
Confunde-se o facto com o fato e vice-versa, mas num enterro não
se veste o facto — só o fato. O facto, esse, fica escondido por baixo do fato,
rente à pele. Eis assim factos e fatos: o facto do corpo que desce à profundeza
relativa daquele rectângulo imposto a uma terra dura, invernosa; os fatos dos
que ficam com os pés assentes na terra acima e assistem silenciosos à sua
descida.