A menina tinha avós e tias que lhe desfiavam as histórias dos amores e desamores das mulheres da família. Até que, completados os dezoito anos, as histórias deram lugar a pesados sermões sobre a necessidade de encontrar alguém e a hipótese
(assustadora, considerava ela)
de "acabar sozinha". Culminavam estes invariavelmente com a súplica chorosa da avó, que dizia querer vê-la casada e ver ainda netos nascidos.
Pressões destas não se desconsideram.
Ei-la agora aos trinta anos, pronta para se casar com um homem que se recusa a conhecer e a quem poucas perguntas faz por medo de que a deixe; um homem que à noite sonha, rangendo os dentes, com o cabelo comprido e com o nome sibilinamente trissilábico da sua anterior mulher, cujas camisas de noite traçadas guarda num armário pouco aberto. Por ele, afasta-se do mundo e da gente que, durante anos, a acompanhou. Por ele, guarda numa gaveta bem trancada a inteligência. Fecha as persianas da casa solarenga e existe para uma só pessoa, a que menos a mereceu: ele.