Status report (22).
Demasiada cafeína, demasiado em que pensar e o tempo que parece que não chega para tudo. Para ler pela noite fora: o livro do Adam Thorpe. Para acompanhar a leitura, o Glassworks e uma caneca de chá forte.
"So that I may say at all times, even when you do not answer and perhaps hear nothing, something of this is being heard, I am not merely talking to myself [...]." (Samuel Beckett, Happy Days)
Demasiada cafeína, demasiado em que pensar e o tempo que parece que não chega para tudo. Para ler pela noite fora: o livro do Adam Thorpe. Para acompanhar a leitura, o Glassworks e uma caneca de chá forte.
Estou aqui. Preso entre aviões, comboios e o motor de uma carrinha a escassos metros do meu ouvido direito. Estou aqui, tão cansado que me esqueço de como se soletra o teu nome para que o use como jangada e me salve.
All his life he had been where he had to be, he had attended and been punctual and beaten out the precise note at the precise moment at the precise pitch. The whole glorious edifice of the Messiah was crumbling behind him, cracking and leaning forward and falling like a building in a bomb raid. His two drums silent amidst the consternation. Silent on stage under their head protectors and leatherette covers, like two pools. His drums silent. Silent the tympani. Silent even where they sounded out in the solo, singing deeply in his mind's ear as he kept on walking through the hammering of his real heart, his membrane of ordinary flesh. Silent the tympani. Silent.
A beber a segunda chávena de café do dia, ainda sem conseguir acordar. Nos earphones, o John Cale e o Lou Reed estão a conseguir derrotar o meu mau humor de segunda-feira, enquanto traduzo um texto relativamente infernal.
Correndo o risco de começar a falar demasiado de música que ando a ouvir, tenho apenas de anotar duas coisas. A primeira: o N. fala-me de um certo autismo que associa ao "I'd rather dance with you", dos Kings of Convenience. Oiço a música e apercebo-me desse autismo e do conforto raro que alguma entropia linguística pode oferecer - leia-se "há vezes em que mais vale estar calado". A segunda: a letra do "Love is like a bottle of gin", dos The Magnetic Fields (69 Love Songs), que acho magnífica e que já andou em repeat aqui por casa e pelo iPod. Fiquei ontem a saber que vêm cá em Maio. Vou andar a rondar a FNAC e a página da TicketLine nos próximos tempos porque este é um daqueles concertos que não posso mesmo perder.
O que eu gostava quando, em pequeno, me liam "A menina com a rosa na testa", ou qualquer outra história tirada dos Contos Populares Portugueses, de Consiglieri Pedroso. Cada pormenor macabro - e havia muitos - era um sorriso meu. A cópia que tenho data de 1985 e é um dos meus livros de estimação.
Os Vampire Weekend são directamente responsáveis por um enorme sorriso meu - um sorriso com vontade própria - que teve lugar ontem, à meia-noite e trinta e quatro.
Estou com as mãos frias, a precisar de um chá quente e a ver isto. Chegaram hoje as partituras do Philip Glass de que estava à espera e ando a ler o Minimalists, de K. R. Schwarz. Tenho três versos do "All my friends" (LCD Soundsystem, Sound of Silver) em loop na minha cabeça.
Por alguma razão, o Histórias em Verso para Meninos Perversos (em inglês, Revolting Rhymes), do Roald Dahl, foi uma das minhas leituras favoritas em miúdo.
A precisar de um café forte, depois de uma noite com poucas horas de sono e de um dia demasiado preenchido. O Alligator, dos The National, é um grande álbum.
Sentaste-te à minha frente com um café na mão. Disseste baixo que a minha letra tinha mudado
A pé desde as dez da manhã e com uma dificuldade tremenda em acordar. Até agora, dois cafés e um chá and counting. Estou a ouvir o álbum The Knee Plays, do David Byrne.
Pode ser que com os joelhos esfolados aprendas a moderação do andar, para que não repitas a tua queda. Mas a minha fé na lição de um par de joelhos é diminuta; inexistente.
days like this. like your day today.
A I. teve hoje um princípio de AVC. O P., filho dela e meu amigo de infância, ligou-me há pouco a dizer que a situação tinha estabilizado e que iam transferi-la para outro hospital. A notícia deixou-me sem reacção durante dois minutos; depois, ex abrupto, um choro violentíssimo. Há pessoas que não ponderamos perder. A I. é uma delas. Conhece-me desde que nasci e aturou-me muitas manhãs, em pequeno, enquanto a minha mãe dava aulas e eu não andava ainda na escola. Dava voltas com ela por Oeiras - íamos ao supermercado, ao banco, à farmácia, ao jardim, ao café comer uma torrada. Vi-a em Dezembro e tinha na cara um sorriso rasgado; falei com ela há umas semanas, quando fiz anos.