Ontem no cinema passou um
trailer de uma comédia romântica na qual um amigo tem uma amiga pela qual se apaixona. A amiga é uma porção grande da vida dele. Existem outras coisas. Mas é com a amiga que ele fala delas e lhes dá algum significado. Só que ela vai casar-se, parte para outro país. E com a partida a vida dele desconjunta-se, deixa de fazer sentido. Não há outra solução: tem de partir atrás dela, tentar que não se case ou que se case com ele.
Quando começaste a sair da minha vida - e falo disto sem cifra, agora que ao fim de tempo se forma pele nova - não pensei que fosse coisa definitiva. Deixámos de falar: primeiro pouco, depois durante meses. Quando dei por mim não te falava há um ano e quando voltei a falar contigo não tinha vontade de te contar nada porque me sentia traído. Tentámos que as coisas voltassem ao normal e não tentámos. Ao fim de doze anos cortámos cerce o que tínhamos. Tu casaste-te; eu tornei-me parte obsoleta. Penso em ti às vezes: enquanto espero por alguém que tarda em chegar à mesa de um café a que costumávamos ir; quando passa um carro igual ao que guiavas; sempre que revejo sozinho um dos filmes que vimos juntos. E ontem. Ontem, no cinema, a ver um
trailer de uma comédia romântica em que um amigo tinha uma amiga de quem gostava muito. Tanto. Mas a nossa comédia não é romântica. A nossa comédia não é sequer uma comédia.