Paleotextos (5).
gelado de limão.
está a chover. ele sabe que está a chover porque vê as pessoas a correrem de um lado para o outro. o frio está-lhe nas mãos. as pessoas correm mais. passa uma carrinha e molha-as. mais e mais.
"So that I may say at all times, even when you do not answer and perhaps hear nothing, something of this is being heard, I am not merely talking to myself [...]." (Samuel Beckett, Happy Days)
gelado de limão.
Digam ao mundo que não estou. Que não atendo telefones. Que não respondo a mensagens. Que não abro a porta a quem bater. Digam ao mundo que não estou.
salvo pela água.
uma noite em lisboa.
antes de saíres, ouve.
desacordar.
Electrolite
As três imagens do post anterior ("Movimentos pretéritos") fazem parte de uma série de dezassete outros desenhos sobre a temática do movimento quando aplicado a objectos específicos - em concreto, barcos e tigelas pela semelhança das linhas. Tinta-da-china sobre folhas A4 de papel cavalinho. Desenhos no. 1, no. 4 e no. 8. Fi-los quando tinha dezoito anos, creio.
Sympathique
Andares acima, oiço o ruído estranho de duas pessoas que se amam. Reconheço-o a custo, a princípio.
ANN (voice-off): You pray that this will be your life without you; you pray that the girls will love this woman who has the same name as you and that your husband will end up loving her too, and that they can live in the house next door and the girls can play dollhouses in the trailer and barely remember their mother who used to sleep during the day and take them on raft rides in bed. You pray that they will have moments of happiness so intense that all of their problems will seem insignificant in comparison. You don't know who or what you're praying to, but you pray. You don't even regret the life that you're not gonna have, 'coz by then you'll be dead - and the dead don't feel anything, not even regret.
Vi ontem My Life Without Me, de Isabel Coixet. E, por muito que quisesse fazer uma crítica imparcial, não consigo. Correcção: por muito que quisesse fazer uma crítica, não consigo. É um filme perfeito, do princípio ao fim. Imagem, banda sonora, argumento, personagens. Sarah Polley é brilhante; Mark Ruffalo grandioso e de uma sensibilidade acutilante (como já vem sendo hábito); até Deborah Harry - a mãe supostamente amarga, com uma tendência para o dramatismo - surpreende. Tudo. Multipliquem por dois aquilo que disse a respeito de A Home at the End of the World (um filme que, quando comparado com este de Isabel Coixet, se vê reduzido à mais perfeita insignificância). É um filme que dói, do princípio ao fim. E é por isso que é tão difícil falar dele.
Chamaram-me hoje novamente a atenção para uma coisa a que, curiosamente, nunca liguei - i.e. o Maiúsculas não ter uma secção destinada aos comentários de quem eventualmente o leia. Também não consigo justificar ao certo a razão desta ausência; tomo-a como um facto e concluo que tenha sido uma opção que tomei quando iniciei este blog (e da qual, francamente, já não me recordava). Em todo o caso - e como um blog, como qualquer texto, existe, pelo menos parcialmente, em função do(s) seu(s) leitor(es) - aqui torno a deixar a morada unsavouryfinnegan@yahoo.co.uk. São bem-vindos comentários, perguntas, sugestões, insultos (estes não serão muito bem-vindos) e afins.