terça-feira, janeiro 31, 2006

Alguns dos meus dias.

São passados de forma estranha. Deito-me tarde. Acordo tarde. Como pouco. Bebo água com açúcar. Fico horas em frente à televisão sem sequer me dar conta daquilo que está a dar. Levanto-me, faço chá, volto a sentar-me, levanto-me novamente, faço mais chá. Vou até ao piano. Toco umas notas. Levanto-me. Escrevo.

(E, sem que dê por isso, é noite - e do meu dia pouco ou nada fiz.)

Comentário desnecessário (47).

Manifesto sem intenção.

Sorrio aos cães que me sorriem.

A busca do desconhecimento.

Quem é que precisa da Wikipedia quando se tem a Uncyclopedia?

Da negação dos vícios.

Dizia no outro dia à S. que não tinha uma addictive personality. Depois deste fim-de-semana, vou ter de refazer esta minha afirmação. Olá, o meu nome é João, tenho vinte e seis anos e ando viciado

(de momento)

em quatro coisas que descobri no sítio onde normalmente faço as compras aos Sábados de manhã: uma infusão de hortelã-pimenta da Twinings, queijo Cheddar da Pilgrim's Choice, bolachas de sésamo da Carr's e um Syrah da Herdade do Esporão.

("Olá, João!")

Além destes, ando viciado em ti.

Aqui nevou.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Autoria diversa.

Encostaste a cabeça ao meu ombro e, com poucas palavras, depois de me teres beijado, disseste-me ao ouvido

- Uso o teu nome como se fosse um adjectivo

e eu sorri e escrevi isto.

Dinner 101: wine.

O e-mail que queria ser um post.

Anteontem fiz vinte e seis anos. Sobrou, até à data, um quarto de cheesecake de morango e pouco mais de um terço de uma garrafa de champanhe. Sobrei eu. Sobrei eu com vinte e seis anos. A idade não me pesou, pelo menos não foi coisa instantânea. Hoje concluí um trabalho que me faltava apenas reler e entreguei-o. Missão cumprida; venha o próximo. Ando a ouvir Nina Simone, Joy Division, Cat Power, Ella Fitzgerald, Rufus Wainwright, Múm, The Album Leaf e Bach. Não tenho ido ao cinema; DVDs são poucos os novos - ando a rever as séries de Sex and the City todas. Sinto-me bem. Sinto-me bem disposto.

(E tu, como estás?)

Depois de um artigo.

Eu queria agradecer ao X e ao Y.

Comentário desnecessário (46).

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Inserir título apropriado aqui.

Bebi dois copos de Syrah - leia-se "demasiado" - ao jantar e nem o café forte que tomei depois me safa do rodopiar animado em que tenho os neurónios. Tenho de trabalhar até às três e meia da manhã. Lerescrever. Segunda-feira faço vinte e seis anos. E o resto não sei.

Proximidades relativas.

Ficção (30).

Pegas no telemóvel que nunca desligas e escreves "Tenho saudades do teu pescoço, dos teus lábios, das tuas mãos, do teu peito. Ainda penso em ti quando adormeço e quando acordo."

(Hesitas.)

Voltas com o cursor atrás e apagas todos os caracteres que encontras. Reescreves um "Parabéns! Espero que passes um dia óptimo!" lacónico e guardas para ti as saudades que lhe ias dizer que tinhas e a falta que ele te faz.

Ficção (29).

Sumariamente descrito, nada restava - nem sequer a pouca dignidade que te orgulhavas de

(nunca, dizias)

ter perdido. Mas eu conhecia-te e sabia-te infeliz. Só que agora não era tarefa minha animar-te; tinhas-me saído das mãos com dois gritos secos encimados por um

- Não aguento mais!

que, até te ter visto naquele café, com aquele homem de aspecto estranho, me assombrava. Numa questão de segundos, passaste de obsessão a desconhecida.

(E foi assim que aprendi a ficar calado.)

Qualquer semelhança.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Hoje, às 21h45mins.

Sentar-me. Puxar a cadeira ligeiramente à frente. Abrir os três livros que estou a ler em simultâneo. Ligar o computador e abrir o ficheiro onde tenho algumas ideias e anotações. Preparar-me para parar de trabalhar às quatro da manhã.

Comentário desnecessário (45).

Ficção (28).

Comecei a ter dúvidas enquanto experimentava os sapatos: será que te amava? Depois decidi levar os castanhos em trinta e nove.

Entre trabalho e mais trabalho.

Acabei de jantar há pouco. Faço um intervalo antes de me perder entre artigos e afins. Passei a tarde a ler e a escrever. Café. Café. Chá. Café. Doses cavalares. Agora estou no sofá, a escrever isto e a ouvir, vinda do quarto, a voz do Rufus Wainwright a cantar "Velvet Curtain Rag".

(Levanto-me e desligo a televisão.)

Visito os blogs do costume à procura de novidades enquanto termino a quarta chávena de café do dia. A aparelhagem passa

(virtudes do shuffle)

para o "Movies of Myself". Levanto-me novamente. Ponho a chávena na máquina e volto para o computador para acabar de escrever este texto e passar ao próximo.

Verbo: rasurar.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Ontem, às 15h16mins.

O cheiro dos lençóis novos, acabados de engomar, à medida que faço a cama; o cheiro do café que me chega lento da cozinha e que invade, sem pressa, todas as divisões.

Comentário desnecessário (44).

Ficção (27).

Aguardo as palavras e o gesto limpo que selam o infindável contrato entre a nossa carne, o nosso génio e tudo o que existe nos interstícios.

Ficção (26).

- Natália

disse-te ele, naquele café perto do coreto. Tu muda. Entendias com especial clareza a mecânica destas coisas, os tempos exactos entre um momento e outro;

- Natália, tu

o balanço pendular entre uma frase e a próxima; entre uma palavra e a palavra a mais. Ele pôs-te a mão sobre o braço e tu, que com o tempo te tornaras um livro de cifra, respondeste-lhe

- Jaime, desculpa. Não tenho tempo para isto. Até logo.

sem sequer pensares em ouvir o que se seguia; odiavas hesitações. Sabias que era a última vez que o verias porque se não fosse ele a pôr fim a tudo serias tu; porque te tinhas esgotado; porque tu não estavas. Levantaste-te, puseste-lhe por caridade a mão no ombro e saíste.

Retrato do primeiro dia do ano.

No dia um acordei tarde e com uma vontade de trabalhar que me surpreendeu - e surpreendeu-me porque, como já disse antes, tenho o hábito de trabalhar por empreitadas

(e disto resulta que, sempre que a inspiração ou a vontade faltam, o trabalho não avança)

e porque me apercebi, atempadamente, de que é tudo uma questão de organização. Não sou - e quem me conhece sabe-o - desorganizado por natureza; sou é extremamente preguiçoso em certas coisas. Com a entrada em dois mil e seis, apercebi-me de que a preguiça tinha desaparecido; no lugar dela, uma ânsia em querer fazer tudo, em cumprir prazos, em ler tudo o que encontrar; em saber; um respiro súbito e revigorante.

(E era exactamente disto que precisava.)

Dois mil e seis.