Pousio (1).
Às vezes não se escreve porque se está ocupado a viver. Outras tantas não é nada disso - não se escreve porque não se escreve, e pronto. Depois há tudo o resto, todo o material que não cabe na escrita, difícil de coagular num parágrafo ou dois: os jantares, as conversas, os sítios onde vamos estando, o frio da noite a atravessar a lã do casaco dentro do qual trememos e sorrimos. Num caderno com a lombada coçada do uso, anotamos datas, nomes de ruas, frases soltas, quatro linhas minutos antes do início de um concerto, a cor dos sapatos do violoncelista; deixamos pontas soltas, que mais tarde decidimos atar ou não. É possível que, ainda assim, nada surja: nem texto ou germe dele. Fica para a próxima.